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Escolher um novo país para morar é uma das decisões mais importantes da vida. E quando se trata de brasileiros que desejam viver em outro país da América do Sul, Buenos Aires, na Argentina, e Santiago, no Chile, aparecem como duas das opções mais buscadas. Ambas as cidades oferecem culturas vibrantes, belas paisagens urbanas, custo de vida atrativo e a vantagem de não exigir visto prévio para entrada de brasileiros como turistas. Mas quando o assunto é estabelecer residência e viver legalmente, surge uma dúvida central: onde é mais fácil morar com menos burocracia — Buenos Aires ou Santiago?
Neste artigo completo e aprofundado, vamos analisar todos os aspectos envolvidos na decisão entre essas duas capitais sul-americanas. Desde vistos, documentação e processos legais, até custo de vida, qualidade dos serviços públicos, estrutura urbana e integração de estrangeiros. Também vamos incluir o olhar de quem já fez essa escolha — relatos de brasileiros que moram nas duas cidades — para trazer mais realidade ao debate.
Se você está considerando uma mudança para a Argentina ou para o Chile, esse conteúdo vai te ajudar a entender não só onde a burocracia pesa menos, mas também onde a vida pode fluir com mais tranquilidade, conforto e oportunidades.
Vistos e permissões de residência para brasileiros: o que muda entre Argentina e Chile?
Tanto Argentina quanto Chile permitem a entrada de brasileiros como turistas por até 90 dias sem necessidade de visto. No entanto, quando o objetivo é morar, trabalhar ou estudar, a situação muda e entram em cena diferentes exigências burocráticas.
Na Argentina, o processo é relativamente simples para brasileiros. Graças aos acordos do Mercosul, é possível solicitar residência temporária de dois anos de forma direta, apresentando apenas passaporte, antecedentes criminais e comprovante de renda ou atividade. Essa residência pode depois ser convertida em residência permanente. Além disso, é possível solicitar CPF argentino (CUIT ou CUIL), abrir conta bancária e trabalhar legalmente com agilidade.
No Chile, o caminho é um pouco mais demorado. O país oferece visto de residência temporária por vínculo com país do Mercosul, mas o processo exige mais etapas: envio de documentos digitalizados, análise da migração, espera por resposta e posterior agendamento para obtenção de cédula de identidade chilena (RUT). A aprovação pode levar meses. Apesar disso, o Chile modernizou bastante seu sistema migratório nos últimos anos, digitalizando parte do processo.
Resumo: a Argentina oferece um caminho mais rápido e direto para o brasileiro legalizar sua situação como residente. O Chile, por sua vez, exige um processo mais burocrático e demorado, embora eficiente.
Processo de entrada e permanência legal: como funcionam na prática
Na prática, entrar em Buenos Aires e permanecer legalmente é mais tranquilo. Muitos brasileiros chegam como turistas e dão entrada no pedido de residência diretamente no país, sem precisar sair para finalizar o processo. A Direção Nacional de Migrações da Argentina disponibiliza um sistema online para agendamento e envio de documentos, mas também aceita atendimento presencial.
Em Santiago, o processo é mais formal e exige mais paciência. O imigrante precisa reunir documentos com tradução oficial, enviar pelo site do Serviço Nacional de Migração e aguardar a análise. Em alguns casos, pode ser necessário apresentar documentação consularizada ainda no Brasil. O RUT, documento essencial para qualquer atividade no Chile, só é emitido após essa aprovação, o que pode restringir temporariamente o acesso a empregos e serviços.
Ambos os países têm leis que permitem ao estrangeiro regularizar sua situação mesmo após entrar como turista. Porém, na Argentina, o sistema parece mais amigável e flexível, com menor exigência documental e prazos mais rápidos para emissão de documentos essenciais.
Registro de residência, documentos e prazos legais
Na Argentina, o primeiro passo após conseguir a residência temporária é solicitar o DNI (Documento Nacional de Identidad), que funciona como um RG local. Com ele, é possível abrir conta bancária, trabalhar com carteira assinada, matricular filhos na escola pública, alugar imóvel com mais facilidade e até solicitar crédito. O processo costuma levar de 30 a 90 dias.
No Chile, o equivalente ao DNI é o RUT (Rol Único Tributário), que também serve como documento nacional. No entanto, ele só é emitido após a concessão da residência temporária — o que pode levar de 2 a 6 meses dependendo da demanda. Sem o RUT, é praticamente impossível abrir conta bancária ou ser contratado formalmente.
Outro detalhe importante: na Argentina, a regularização de imigrantes com documentos vencidos ou entrada como turista prolongada é mais acessível. No Chile, a imigração é mais rigorosa e pode multar ou exigir saída do país em caso de irregularidades.
Ou seja, em termos de prazos e facilidades, Buenos Aires leva vantagem para quem deseja se instalar rapidamente e começar a vida sem grandes obstáculos.
Abertura de conta bancária e acesso a serviços como estrangeiro
Abrir conta bancária é um dos maiores desafios enfrentados por estrangeiros. Na Argentina, com o DNI em mãos, o processo é simples. Mesmo sem histórico de crédito, bancos como Santander, BBVA e Banco Nación permitem a abertura de conta poupança ou corrente em poucos dias. Alguns bancos digitais, como o Mercado Pago e Brubank, nem exigem presença física.
No Chile, o sistema bancário é mais exigente. Muitos brasileiros relatam dificuldades para abrir conta mesmo com residência temporária aprovada. Os bancos tradicionais pedem comprovação de vínculo empregatício, contrato de aluguel e histórico de crédito. Bancos digitais como Tenpo e MACH oferecem alternativas mais acessíveis, mas ainda há limitações.
Outro ponto importante é o acesso a serviços básicos como celular, internet e aluguel. Na Argentina, o DNI facilita tudo — muitas operadoras permitem habilitação pré-paga com passaporte, mas contratos exigem o documento argentino. No Chile, é praticamente impossível assinar um plano de celular ou internet sem o RUT.
Conclusão: em Buenos Aires, o estrangeiro consegue se estruturar mais rapidamente, enquanto em Santiago há uma etapa intermediária mais longa até conseguir integrar-se plenamente ao sistema.
Diferenças na burocracia trabalhista e empreendedora
Ao escolher entre Buenos Aires e Santiago, não basta avaliar apenas a legalização da residência — é fundamental entender como funciona o ambiente burocrático para quem deseja trabalhar ou empreender. E aqui surgem diferenças bem relevantes.
Na Argentina, o brasileiro com residência temporária ou DNI já pode trabalhar formalmente, seja como contratado com carteira assinada ou como autônomo. A legislação permite que o imigrante abra um CUIL (para trabalhar como empregado) ou CUIT (para atuar como autônomo ou empresário). Esses registros são emitidos com certa rapidez, principalmente quando já se tem o DNI em mãos. O sistema tributário argentino, embora burocrático, oferece regimes simplificados para microempreendedores — como o “Monotributo”, que unifica impostos e INSS em uma taxa fixa mensal.
No Chile, o caminho é mais complexo. Para trabalhar formalmente, é preciso ter o RUT, um contrato de trabalho, e em alguns casos, a empresa contratante precisa justificar a contratação de um estrangeiro. Para empreender, o processo exige abertura de empresa (Sociedad por Acciones), inscrição no SII (órgão fiscal) e cumprimento de várias exigências legais — algo que pode demorar meses e requer intermediários, como contadores especializados.
O Chile é reconhecido por sua estabilidade econômica e respeito ao mercado, mas também por ser bastante formalista e rígido. Muitos brasileiros relatam que conseguir um primeiro emprego sem ajuda de uma rede de contatos ou sem dominar o espanhol chileno é difícil. Já na Argentina, a informalidade ainda é uma válvula de escape, e muitos imigrantes começam trabalhando como autônomos ou em pequenos comércios sem grandes entraves legais.
Para quem deseja empreender pequeno (cafeteria, ateliê, marketing digital, serviços), Buenos Aires oferece uma estrutura menos engessada e mais espaço para começar do zero. O Chile, por outro lado, é mais indicado para quem já chega com planejamento empresarial e recursos.
Sistema de saúde para imigrantes: público, privado e exigências legais
A saúde é uma das áreas em que a diferença de mentalidade entre Argentina e Chile mais se evidencia. Na Argentina, o sistema de saúde pública é universal — ou seja, qualquer pessoa, mesmo sem documentação, pode ser atendida gratuitamente em hospitais e postos de saúde. Isso se estende aos estrangeiros, inclusive turistas. Grandes hospitais públicos em Buenos Aires, como o Hospital Italiano e o Hospital Ramos Mejía, recebem brasileiros todos os dias.
Já no Chile, o sistema de saúde público (FONASA) exige registro formal como residente. Sem RUT, o estrangeiro não consegue acessar a rede pública com plenitude, ficando dependente de atendimento emergencial ou privado. Para ter direito ao FONASA, o imigrante precisa trabalhar formalmente e contribuir para o sistema. A alternativa são os planos privados (Isapres), que costumam ser caros, especialmente para pessoas com mais de 40 anos.
Na prática, isso significa que o brasileiro recém-chegado a Buenos Aires tem garantias médicas mesmo enquanto regulariza sua situação, enquanto em Santiago ele ficará em uma espécie de “limbo” até completar o processo legal. Para quem viaja com filhos ou tem problemas de saúde, esse fator pesa muito.
Em termos de qualidade, ambos os países têm hospitais bem equipados nas capitais. A diferença está no acesso e na sensação de acolhimento que o sistema transmite ao estrangeiro — e aqui, novamente, a Argentina tende a ser mais inclusiva.
Educação e matrícula escolar de filhos estrangeiros
Quem se muda com filhos precisa entender como funcionam as escolas e universidades locais. Na Argentina, o ensino público é gratuito desde o ensino infantil até a universidade. E o mais importante: imigrantes, com ou sem documentação completa, têm direito garantido ao acesso à educação.
Em Buenos Aires, a matrícula em escolas públicas pode ser feita apenas com o passaporte e um comprovante de residência (mesmo informal). Muitas escolas têm estrutura básica, mas são acolhedoras e adaptadas à diversidade cultural. Já nas universidades públicas — como a UBA (Universidad de Buenos Aires) — estrangeiros também podem estudar gratuitamente, sem pagar mensalidades nem taxas abusivas.
No Chile, o cenário é mais restrito. O acesso à educação pública básica é garantido, mas muitas escolas exigem o RUT para matrícula, o que pode ser um problema para imigrantes recém-chegados. As universidades públicas e privadas, por sua vez, cobram mensalidades elevadas, e o ingresso de estrangeiros é mais limitado, com exigência de provas de validação, documentação traduzida e, em muitos casos, pagamento de taxas adicionais.
Ou seja, quem deseja estudar ou matricular filhos rapidamente e com menos entraves legais, encontra mais portas abertas em Buenos Aires do que em Santiago. Além disso, o histórico da educação pública argentina como um direito universal fortalece esse cenário.
Custo de vida comparado: aluguel, transporte, alimentação e serviços
Embora a Argentina enfrente inflação alta e volatilidade cambial, o custo de vida em Buenos Aires ainda é mais baixo do que em Santiago, especialmente para quem ganha em moeda estrangeira (real, dólar, euro).
Aluguel: em Buenos Aires, é possível alugar um apartamento mobiliado de um quarto em bairro central por algo entre R$ 1.500 a R$ 2.500. Já em Santiago, esse valor pode chegar a R$ 3.000 ou mais, especialmente nos bairros mais seguros como Providencia, Las Condes e Ñuñoa.
Transporte: ambas as cidades possuem metrô, ônibus e aplicativos de transporte. Buenos Aires se destaca por sua malha de ônibus, o “colectivo”, muito barata. O metrô chileno é mais moderno e pontual, mas o custo mensal do transporte público em Santiago é mais elevado.
Alimentação: a comida no Chile é mais cara, principalmente alimentos frescos e produtos de supermercado. Na Argentina, a variedade é maior, e é possível encontrar refeições completas por preços acessíveis. Restaurantes e mercados de bairro oferecem opções econômicas.
Serviços: telefonia, internet e lazer também custam menos em Buenos Aires. No entanto, vale lembrar que a inflação argentina torna difícil prever o custo no longo prazo, enquanto o Chile oferece mais estabilidade nesse aspecto.
Qualidade de vida: segurança, transporte, lazer e estrutura urbana
Santiago é reconhecida por sua organização urbana, limpeza, eficiência no transporte público e alto índice de segurança em comparação com outras capitais da América do Sul. Ruas bem cuidadas, sinalização eficiente, policiamento e manutenção urbana fazem da cidade uma referência em planejamento.
Buenos Aires, por sua vez, é mais caótica e charmosa ao mesmo tempo. Bairros históricos, arquitetura europeia, cafés antigos e praças arborizadas criam um ambiente vibrante e culturalmente rico. No entanto, a infraestrutura urbana sofre com falta de manutenção, trânsito desorganizado e serviços públicos sobrecarregados.
Em termos de segurança, o Chile apresenta índices mais baixos de criminalidade. Embora haja furtos e assaltos, principalmente em áreas turísticas, a sensação de segurança em Santiago é maior do que em Buenos Aires, onde os roubos e furtos são mais comuns — especialmente em ônibus, metrô e regiões periféricas.
No lazer, ambas as cidades oferecem excelente vida cultural: teatros, cinemas, exposições, shows, parques e vida noturna ativa. Santiago é mais cara nesse aspecto, mas também mais segura. Buenos Aires é mais intensa, viva, imprevisível — o que pode encantar ou cansar.
Barreiras culturais e linguísticas: adaptação em cada cidade
Embora ambos os países sejam hispano-falantes, há diferenças culturais e linguísticas que influenciam diretamente na adaptação do brasileiro.
Na Argentina, o sotaque é diferente, o “portunhol” é mais tolerado e os argentinos estão acostumados com a presença de brasileiros, especialmente em Buenos Aires. O espanhol é ensinado com ênfase na pronúncia castelhana, e muitos brasileiros se adaptam com rapidez.
No Chile, o idioma é mais fechado, falado com velocidade, gírias locais e variações regionais. Isso pode ser um desafio nos primeiros meses. Além disso, os chilenos são mais formais e reservados, enquanto os argentinos tendem a ser mais diretos e expansivos.
Em termos de acolhimento, Buenos Aires oferece um ambiente mais informal e boêmio, ideal para quem gosta de se integrar rapidamente e viver o cotidiano local com leveza. Santiago exige mais tempo, mais respeito aos códigos sociais e, em alguns casos, mais paciência.
Experiência de brasileiros morando em Buenos Aires e Santiago
Relatos de brasileiros que vivem em Buenos Aires apontam para uma cidade acolhedora, cheia de oportunidades culturais, onde é possível viver com dignidade mesmo com renda modesta. Muitos elogiam a comida, o transporte barato, a oferta de cursos e a possibilidade de estudar em universidades públicas.
Por outro lado, reclamam da instabilidade econômica, da burocracia em órgãos públicos e do sistema financeiro argentino, que impõe limites para saques, compras e câmbio de moeda estrangeira.
Em Santiago, brasileiros relatam admiração pela organização da cidade, pelo transporte moderno e pela estabilidade financeira. É mais fácil fazer planejamento a longo prazo, obter crédito e construir uma carreira sólida. Mas também comentam sobre a frieza social, o custo de vida elevado e a rigidez dos processos burocráticos.
Esses depoimentos reforçam a conclusão: Buenos Aires encanta pelo calor humano e pela facilidade em começar, mesmo com pouco. Santiago conquista pela ordem, pela estabilidade e pela visão de futuro. A escolha depende do perfil de quem pretende migrar.
Onde é mais fácil regularizar a situação e viver legalmente?
Quando o critério principal é burocracia e facilidade para morar legalmente, Buenos Aires oferece caminhos mais acessíveis, menos exigências documentais e mais portas abertas desde o primeiro dia.
Santiago exige mais paciência, mais comprovações e mais tempo. O sistema chileno é mais eficiente, mas também mais rígido, menos adaptável e com menos tolerância a falhas no processo.
Para quem deseja começar a vida o quanto antes, com menor barreira burocrática, a capital argentina ainda é a opção mais viável para brasileiros.
Conclusão: qual cidade oferece menos burocracia e mais qualidade para morar?
Se a pergunta for onde morar com menos burocracia, a resposta é direta: Buenos Aires. A cidade tem um sistema mais permissivo, prático e acolhedor para brasileiros. É possível se legalizar com rapidez, trabalhar, estudar, alugar imóvel e acessar serviços mesmo com documentação parcial.
Mas burocracia não é tudo. Santiago tem menos emoção e mais organização. Para quem prioriza segurança, planejamento financeiro e estrutura urbana moderna, a capital chilena se destaca.
No fim, tudo depende do que você busca: um recomeço rápido, leve e culturalmente rico? Vá para Buenos Aires. Um projeto de médio/longo prazo com estabilidade e foco profissional? Considere Santiago.
FAQ – Perguntas frequentes
- É preciso visto para brasileiros morarem em Buenos Aires ou Santiago?
Não. Brasileiros podem entrar como turistas em ambos os países e depois solicitar residência legal localmente. - Quanto tempo leva para obter a residência em cada país?
Na Argentina, entre 30 a 90 dias. No Chile, pode levar de 2 a 6 meses ou mais. - Posso trabalhar legalmente em ambos os países?
Sim, desde que tenha residência ou autorização específica. Na Argentina, o processo é mais simples. - Posso estudar em universidades públicas como estrangeiro?
Na Argentina sim, inclusive gratuitamente. No Chile, há restrições e custos elevados. - Qual país tem custo de vida mais baixo?
Atualmente, a Argentina oferece custo de vida menor, principalmente para quem ganha em real ou dólar. - O sistema de saúde atende estrangeiros?
Na Argentina, sim, mesmo sem documentação. No Chile, apenas com RUT e registro formal. - Onde é mais fácil abrir conta bancária?
Na Argentina, com o DNI. No Chile, é mais burocrático e exige vínculo formal. - É seguro viver em Buenos Aires ou Santiago?
Ambas são seguras, mas Santiago tem índices mais baixos de criminalidade e mais estrutura urbana.