Portugal vive um momento delicado em seu mercado de trabalho, enfrentando uma crescente escassez de mão de obra qualificada, especialmente nos setores ligados à tecnologia. Esse cenário tem elevado significativamente os salários em áreas como inteligência artificial, segurança digital e computação em nuvem, com remunerações que podem ultrapassar os 180 mil euros por ano para profissionais altamente especializados.
A carência de talentos é reflexo direto do descompasso entre a formação acadêmica e as necessidades reais das empresas, além do envelhecimento da população e da constante saída de jovens qualificados para outros países. Com mais de 850 mil portugueses entre 15 e 39 anos tendo emigrado nos últimos anos, o país enfrenta uma dificuldade estrutural para suprir as vagas que surgem com a digitalização da economia.
Formação e demanda: uma equação desequilibrada
Portugal forma anualmente dezenas de milhares de licenciados, mas boa parte desses profissionais não atende às exigências específicas do mercado de trabalho atual, especialmente nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática. A lacuna entre formação e empregabilidade é agravada pela migração de jovens talentos em busca de oportunidades mais atrativas no exterior, o que esvazia ainda mais o já escasso banco de profissionais qualificados dentro do território nacional.
Empresas recorrem à requalificação e salários atrativos
A falta de profissionais preparados tem forçado as empresas a adotarem estratégias alternativas, como a requalificação interna de colaboradores e o aumento de salários para atrair talentos. Cargos executivos como o de Chief Information Security Officer (CISO) e Chief Technical Officer (CTO) tornaram-se altamente valorizados, com salários que chegam a 180 mil euros por ano.
Além disso, profissões técnicas que antes não recebiam tanta atenção também vêm ganhando protagonismo. Técnicos de AVAC (aquecimento, ventilação e ar condicionado), encarregados de obras e motoristas internacionais de veículos pesados estão entre os profissionais mais procurados, com salários mais competitivos e oportunidades crescentes, inclusive para trabalhadores reformados que voltam ao mercado para atuar como mentores e formadores.
Tecnologia continua a liderar o mercado em 2025
Com a digitalização avançando rapidamente, as áreas de tecnologia da informação seguem no topo da lista de maior procura em 2025. Especialistas em cloud computing, inteligência artificial, análise de dados e business intelligence são especialmente visados. A IA, em particular, tornou-se indispensável para empresas de todos os setores, e profissionais capazes de implementar soluções baseadas nessa tecnologia são altamente valorizados. Os salários nessas áreas variam entre 60 mil e 180 mil euros, dependendo do grau de especialização e experiência.
Requalificação profissional: resposta urgente ao déficit de talentos
Para enfrentar essa escassez, programas de requalificação têm ganhado força em Portugal. Projetos como o PRO_MOV, parte da iniciativa europeia Reskilling 4 Employment, buscam capacitar trabalhadores para setores de alta demanda, como tecnologia e energias renováveis. Grandes empresas, como Sonae e Nestlé, também têm investido em iniciativas de requalificação, promovendo a atualização constante de seus quadros de funcionários.
Outro exemplo é o CESAE Digital, que oferece formação em competências digitais a mais de 10 mil pessoas por ano, contribuindo para a inserção de novos profissionais no mercado de trabalho tecnológico.
Mais mulheres na tecnologia: desafio e oportunidade
Uma questão importante para o futuro do setor é a participação feminina nas áreas tecnológicas. Hoje, apenas 30% dos alunos em cursos de IA, análise de dados e cibersegurança são mulheres. Essa desigualdade de gênero pode acentuar ainda mais as disparidades salariais no futuro e limitar a diversidade no setor. Por isso, ampliar o acesso de mulheres à formação tecnológica é essencial para um mercado mais justo e competitivo.
Novas áreas de crescimento e transformação no mercado de trabalho
Apesar dos obstáculos, o cenário também revela grandes oportunidades. Com a transição para uma economia digital e verde, setores como energias limpas, mobilidade elétrica e eficiência energética ganham destaque e abrem novas frentes de trabalho. A criação de vagas em áreas emergentes exige um esforço conjunto entre governo, setor privado e instituições de ensino para formar uma nova geração de profissionais prontos para os desafios futuros.
Investimento em qualificação e diversidade: o caminho para um futuro sustentável
O sucesso de Portugal na superação da escassez de mão de obra qualificada dependerá do investimento contínuo em educação, requalificação e inclusão. Incentivar o desenvolvimento de competências digitais, ampliar a participação feminina e fomentar a formação em áreas estratégicas são medidas fundamentais para garantir um mercado de trabalho equilibrado, moderno e competitivo.
O futuro do trabalho em Portugal está diretamente ligado à capacidade do país de preparar seus cidadãos para as transformações tecnológicas e sociais que já estão em curso. Com políticas assertivas, incentivos à formação e inclusão, e o fortalecimento de parcerias entre os diversos setores da sociedade, o país pode transformar um desafio em uma grande oportunidade de crescimento.